quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Jardineira de Coração




O que se ver e o que se pensa quando se está olhando uma tela em branco como esta?! Minha vida não está vazia como esta página. Não está!

Está.

Minha vida fica vazia diariamente, minuto a minuto, a cada milésimo de segundo dos meus dias.

Minha vida foi um dia vazia, sem sentido. Vivi na eterna procura do sentido, e foi realmente eterna, pois quando o encontrei, foi o fim de mim. Foi o fim de Aline. Foi o fim daquela Aline.


E quem era aquela Aline? ... Não sei! Nem ela mesmo sabia quem era, quem ser. Aliás, ela sempre soube quem ser. O futuro, ela sempre soube. Mas seu futuro ficou perdido no passado dos dias. Aline sabia quem queria ser. Aline tinha sonhos. Aline tinha vontades e desejos dos mais simples aos mais obscuros. Aline estava a procura da felicidade, do sentido da vida. Sabia o que queria. Sempre sabia o que queria.

E qual a razão de não encontrar a felicidade nessa sua determinação? Não era determinada. Não passava de uma medrosa que se escondia dentro de si mesmo, inventando personagens e faces. Sonhava... E é muito bom sonhar. E era a única responsável pela não realização dos seus sonhos, das suas vontades. Hoje ela se lastimava por ontem não ter sido ou não ter feito o que queria fazer. Hoje chorava o não feito do dia anterior. Hoje não vivia. Hoje chorava. E amanhã... Amanhã passou e era hoje de novo. E hoje chorava porque ontem chorou. E hoje chorava porque ontem não fez alguma coisa, porque ontem não foi alguma coisa, porque ontem não foi alguém.

Era o excesso da necessidade de auto-afirmação.

O que se ver e o que se pensa quando se está olhando uma tela em branco como esta?! Minha vida não está vazia como esta página. Não está!

Vazia era a vida de Aline. Mas não era vazia.

Era vazia, mas era preenchida. Preenchida de lágrimas, de medos, de paixões, de desejos, de sonhos, devaneios. E os sonhos foram morrendo. As lagrimas foram secando. As paixões... Que paixões? Paixões passageiras para uma Aline necessitada de profundo amor eterno. Os devaneios lhe preenchiam as lacunas vazias, os espaços com ar. Faltou-lhe o ar.

O ar faltou-lhe.

O ar sempre faltava.

Onde resgatar o ar que faltava?

Espelhos, bolsas, fotografias plugadas no mural, lençol ao chão, tênis jogados, meias espalhadas, um sutiã sobre o banco, um copo sobre a mesa, um livro, uma caneta, um relógio. São 02:27hs

Que saco! Estou sem saco. Estou vazia.

Não estou mais vazia. Vazia era ela, não eu. Vazia era aquela, não eu. Aquela, morreu.

Aquela morreu quando eu nasci. Morreu Aline. E nasceu Aline. Seria um processo de ressurreição? Eu sei que não sou Jesus, mas ele agora vive em mim. Fui salva pela Sua graça e estou preenchida da sua benção, pois Nele creio! Agora creio, e sigo.

Morreu aquela Aline do “tanto faz”. Não tinha suas preferências em nada, porque tanto faz, qualquer coisa serve. Serve? Não serve. Mas ela morreu e nasceu eu.

Eu sei o que quero, eu sei do que gosto, eu sei quem sou, eu sei quem quero ser, e até sei quem fui. Fui medrosa e isso foi péssimo. Fui medrosa, mas foi muito bom.

Contraditório? Hum... Isso é ainda característica daquela de mim que morreu. Eu sou decidida, não aceito contradição.

Reflito... A minha reflexão é saudade das coisas que eu não vivi, das roupas que não vesti, das bebidas que não bebi, dos lugares que não visitei. Por medo! Medo de não estar no padrão da moda, medo de não estar fazendo o que a sociedade julga ser certo, medo de não ser o que esperavam que eu fosse, medo da noite, medo de sair de casa, medo de fazer o que eu queria fazer. A minha reflexão é um suspiro de alívio, é um sopro na minha alma. A minha reflexão é perceber que “Nossa! Teria sido muito bom não ter sofrido por medo. Eu teria sido feliz fazendo tudo àquilo que queria!”, é perceber que “Como foi bom ter sido medrosa... Não ter feito coisas que poderia hoje me arrepender de ter feito, não ter feito coisas perigosas e/ou ilegais, não ter vestido roupas que hoje eu não reconheceria em mim, não ter ido a lugares que hoje simplesmente não me atrai.”

E o que me falta? O que me falta neste momento? O que tem percorrido meu ser por estes dias, causando-me esta inquietude no sangue que viaja nas estradas das minhas veias? Meu sangue coalha se eu parar. E a inquietude vem bombear meu coração, dar-me razão, dar-me carvão.

Essa inquietude, mesmo que com toda essa máscara de ocupação, é um ócio. A inquietude se fantasia de ordem, de organização, de cheio. A inquietude é vazio. O coração inquieto é um copo cheio de pedras, que mesmo cheio está vazio. Meu coração está vazio.

O que se ver e o que se pensa quando se está olhando uma tela em branco como esta?! Minha vida não está vazia como esta página. Não está!

Minha vida está cheia, cheia de pedras. Tudo bem! Eu, eu mesmo, essa Aline que hoje sou, é alguém que encara pedras como obstáculos da vida, e obstáculos foram criados para serem superados. Fazer o quê... Eu gosto de desafios! Gosto? Se não, passei a gostar. A gostar das pedras, estas que me deixam cheia, mas que não ocupam todos os espaços do meu ser. Meu coração e minha vida estão cheios de muitas coisas capazes de preenchimento. Aqui tem pedras grandes, médias, menores, cascalho, e areia. Só líquido para preencher o que resta no vácuo.

Pensa que vou chorar? Que vou preencher de lágrimas este vazio?

Este não é o vazio de um líquido qualquer. É um vazio de escrever. Eu PRECISO escrever. “Escrevo porque preciso. Ou melhor... vivo porque escrevo.”**  

Mas é também, antes de tudo, o vazio de água, da água da vida que é Jesus. Ele é a água que brota da fonte da vida eterna, meu coração é um vazo. Meu coração tem buraquinhos. Preciso aguar as folhas, frutos e espinhos da minha vida com esta água da vida eterna, mas todo dia esta água escorre pelos buraquinhos do meu coração. Preciso ser jardineira diariamente.

** Fala de Camila (Leandra Leal) no filme “Nome Próprio”

Escrito por Mim! =)

Um comentário:

  1. Amiga, no que precisar pode contar comigo. sempre estarei disposta a te ajudar em tudo...assim como vc, tbm gosto de expor minhas ideias, pensamentos, sentimentos...quem sabe um dia inspirada no seu blog farei o meu ne, ou ter um espacinho aqui no seu. te adoro muitao,xero! M.M

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