sábado, 3 de setembro de 2011

Chocolate

Bom, eu não sei o que acontece comigo quando vejo um chocolate. Basta-me saber que é chocolate que, de cara, me apaixono. Não sei se a paixão é mútua, suponho que não, pois quem gostaria de ser devorado? Porém não resisto ao encantamento e ao brilho dos chocolates. Não resisto aos seus sabores. Se não é paixão o que os chocolates sentem por mim, por que se oferecem tanto?

Eles olham-me com aquele olhar 43 de garanhão, seduzindo. Não resisto.

Por vezes até sinto-me um pouco culpada por este assédio excessivo por parte deles. Faz parte do meu jogo. Sou seduzida, provo-o respondendo as investidas do garanhão da vez, e logo que me aparece um chocolate novo, deixo-me levar pela emoção e pelo desejo, mudando de chocolate preferido. Eles ficam doidos. Enciumados.

Dizem que mulher alguma esquece o primeiro amor. Pois... Meu primeiro amor seduziu-me logo na infância, com seu jeitinho divertido que agrada a qualquer menina. Confeti (apesar das imitações, é este mesmo seu nome) me seduziu com suas cores... Lindo! Um charme. Lindo por fora e gostoso por dentro.

Sempre que nos encontramos, meu corpo e minha boca eram tomados de um desejo de despi-lo. Eu tirava-lhe a capa, e quando chegado momento de saborear o recheio, ele logo se desvanecia em meus lábios. A capa era uma superfície ultra-fina e crocante, sim, crocante. Difícil acreditar que algum outro chocolate consiga ser como o Confeti. Ultra-fino e crocante ao mesmo tempo, sem quebrar, amolecer.

Ninguém merece ser seduzida por um mole, não é?! Ou que anda
quebrando por aí...

Mas olha, comigo não tem isso não. Eu sou mesmo uma demi-mondaine chocólatra. Não ligo se são moles ou duros. Não tenho preconceito quanto a raça, a cor deles. Para mim tanto faz. Como branco, como preto, como de toda cor. O meu negócio é comer... Gosto tanto que até penso em juntar o útil ao agradável. Abrir um ponto e trabalhar para eles.

Isso é algo que gostaria de voltar a falar depois, porém agora vou retornar a descrever meus antigos chocolates preferidos!



Após abandonar o Confeti por motivos finaceiros na nossa relação, aos poucos fui sendo conquistada pelo Disqueti. Irmão bastardo do Confeti.

Nossa! O Confeti foi tudo de bom pra mim. Meu inesquecível primeiro amor. Porém o Disqueti chegou de mansinho enquanto eu estava de caso com o Baton.

Disqueti vinha de uma família mais simples, era mais econômico. Apesar de não ser muito popular, me conquistou com sua roupagem (embalagem) super colorida, e me apegar-me à sua beleza interior. Gostoso por dentro e por fora. Muito melhor que o Confeti.

Como são as coisas da vida, não é?! As aparências enganam... Não quer dizer que por um chocolate ser mais barato ou menos popular que outro, não seja tão gostoso quanto, ou até mais. Antes de dar de cara com o Disqueti enquanto estava na fila de espera de um supermercado, conheci o Baton. Ah, Baton! Batom se derrete quando me ver. Ali sim, tenho certeza que é paixão mútua.

Nosso caso foi interessante. Batom é astro de TV, e como toda menina, me apaixonei por um astro da TV. Foi paixão a primeira vista. Fiquei fã número 1. Sabe quando o galã da novela olha para a câmera e fala algo que parece conversar com você, que é telespectador? Pois... Vi o Batom pela primeira vez contracenando com uma garota louca que tentou hipnotizar-me dizendo amiúde: “Compre Baton! Compre Baton!”

Comprar Baton? Baton passou a ser produto de desejo. Assistia suas aparições na TV com meus olhos arregalados e queixo caído. Talvez até chegando a babar.

Batom já diz tudo. É para a boca. E comprei batom para minha boca. Rasgava sua roupagem e passava sobre meus lábios. Baton derrete na boca.

Mas como em todo caso com astro de TV, com Batom foi só um flerte. Anos depois veio o Disqueti. E logo mais o Crocante.

Crocante foi a primeira paixão da adolescência. Veio faceiro... Também o vi pela primeira vez pela televisão. Fui pega de surpresa, pois eu nem estava tão disposta a sair mudando de chocolate por aí... Mas a tal da propaganda, ah, a propaganda... Convenceu-me a ir ao mercado naquele mesmo minuto, de encontro com o Crocante.

Olhei-o. Ele também me olhou. E fiquei naquela duvida: “Será que levo? Ou não levo?” E levei Crocante para casa. Apesar de ser um sujeito bem duro, passou um bom tempo comigo. Acostumei-me ao seu jeitão durão de ser. Sabor? Não tinha o que saborear. A consistência de sua interioridade eliminava totalmente alguma chance, por mínima que fosse, de eu achá-lo gostoso.

E por longos meses perguntei-me: “O que me fez apaixonar-me por ele?” E quer saber?! Foi sua aparência, sua roupagem moderna laranja com amarelo, seu marketing pessoal, sua propaganda. Aí foi que comecei a compreender de verdade o poder da propaganda sobre mim. Deixei-me enganar por ela, que no fundo no fundo, não tem culpa alguma da minha rejeição ao Crocante (que nem era tão mal assim). Confesso que ás vezes quando o vejo sozinho em uma caixa, pisco para ele, que me responde com carinha de cachorro manhoso querendo carinho. Não resisto. Recordo que grande quantidade de Crocante já me foi dada como presente de aniversário. Felizmente divorciei-me desse vício amoroso que não me causava dor de cotovelo. Não, não. Mas causava-me dor de dente. 
 
Fui crescendo e a ansiedade da adolescência me exigia comer de instante em instante. Foi aí que optei pelo Nescau Ball. Bolinhas crocantes de chocolate que eu comia uma, e depois outra, e outra, mais uma, e outra...

E mesmo vivendo como uma demi-mondaine, comendo tudo e todos por aí em que Chocolate é sobrenome de luxo, foi que cresci aprendendo e entendendo que as diferenças me atraem. Sou apaixonada pelos clássicos e poderosos Sonho de Valsa, Serenata de Amor, Tablete Batom, Lancy... Não sou racista e assim também sou apaixonada pelo Ouro Branco, e pelo Diamante Negro, que ambos têm nome nobre. E gosto também dos mais simples Twix (que é mais gostoso após horas de resfriamento no congelador), e Chokko Snack.

Chocolates me conquistam se tem casca fina, se tem casca grossa, se é mole, se é duro, se é crocante, se tem recheio melado daqueles que escorre nos dedos e huuuum... Até dar vontade de lamber o restinho que gruda na embalagem.

Atraem-me pelo sabor, pelo preço, pela embalagem, pela propaganda...

Na falta de um chocolate dito chocolate, porque não deixar que meu desejo torne-se necessidade? Apelo para colheradas puras de Nescau, apelo para uma caixinha de Todynho, ou um biscoito Treloso. E bem, sei que não sei o que me acontece quando vejo um chocolate. É um troço louco. São sensações que vão e vem. A boca seca. A saliva escorre. A língua encontra os lábios. Os olhos arregalam.

Só sei que como uma autêntica demi-mondaine do mundo chocólatra,
não vivo sem eles. Mas o que será deles sem mim?

E o que será de nós sem esse cupido-cafetão chamado propaganda?

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